De tudo o que cato no lixo eu existo
Encontro pedaços de mim
Nas coisas jogadas assim
Pelos que me acham delinquente, demente
Fruta apodrecida, que ninguém colheu
Não tenho culpa se sonhei morrendo
E ninguém me socorreu
Gosto de fazer gaiolas
Mas não mato passarinho
Como sartre, não farejo ninho
Não jogo pedra
Em quem sabe voar
Quem cobre espelhos em noite de tempestade
Dizem, dizem, dizem que falo demais
Que tenho pouco a dizer
Que falo alto, alto, alto, está me ouvindo?
Que ninguém é surdo
Escuto vozes e duvido de mim
Quero me calar, mas eu não posso
Coleciono relógios
Para ter comigo as horas do mundo
Os despertadores disparam
Às vezes disparam juntos
Todos de uma vez
Não me obedecem
São relógios do lixo
Não escutam a ninguém